domingo, 27 de novembro de 2011

A era dos iPadres e dos facebispos

No dia 20/11/2011, foi bublicado pela Zero Hora e também na revista IHU (Instituto Umanitas Unicinos), um artigo a respeito das novas formas de comunicação no mundo digital. A reporatgem é de Itamar Melo. Veja a seguir!!!

A Igreja Católica ingressou na era dos iPadres e dos facebispos. Instigados pelo próprio Papa, que lançou uma conta no Twitter e exortou seus comandados a marcar presença na internet, os sacerdotes brasileiros agora pregam o evangelho a partir de smartphones e tablets e usam as redes sociais para orientar seu rebanho ou conquistar novos fiéis.

O bispo de Frederico Westphalen, Antonio Carlos Keller , chega a ter seis perfis no Orkut e outros dois no Facebook – uma forma de driblar o limite máximo de contatos imposto pelos sites. Keller tem mais de 5 mil amigos em cada um dos serviços de relacionamento. São pessoas que adicionaram o bispo em busca de informações da Igreja, de mensagens de conforto, de orações ou até mesmo de orientação.

– A internet é um trabalho de presença, de estar junto para que as pessoas tenham alguém que as escute e com quem possam desabafar. Posso dizer que atualmente há mais de 30 jovens que entraram para o seminário a partir desses contatos comigo – orgulha-se.

Por Bento XVI
, pastores tecnológicos como Keller são apontados como modelos. Nos últimos anos, a Santa Sé tem publicado com assiduidade documentos sobre o assunto e já promoveu encontros de bispos para discutir ferramentas como YouTube, Flickr e Facebook.

– Está aberta uma nova era: a da evangelização na internet – explicitou o Papa, em 2010.

Por trás dessa mobilização está a percepção de que, no Twitter, um sacerdote pode arrebanhar com facilidade muito mais seguidores. Que o diga o padre cantor Fábio de Melo, fenômeno do microblog, com 300 mil discípulos. Com números mais modestos, chegam às centenas os padres que estão tuitando sua fé. Cesar Leandro Padilha
, da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, de Porto Alegre, por exemplo, tem 1,6 mil seguidores.

– Estar na internet hoje é uma exigência, e cada vez mais os padres vão seguir esse caminho – diz Padilha
.

É por perceber essa exigência que o bispo Keller comanda uma reformulação do site da diocese, de maneira a deixá-lo mais intuitivo e interativo. Uma das inovações que introduziu é um chat diário com padres. Dono de um iPhone, Keller costuma levar o aparelho até mesmo ao altar, para ajudá-lo na hora da missa. Diante dos fiéis, consulta no visor o roteiro do sermão. Outro bispo que adotou o smartphone é Alessandro Ruffinoni
, de Caxias do Sul. Ele aposentou os quatro volumosos cartapácios que reúnem as orações que todo padre deve fazer diariamente e hoje reza por intermédio de um aplicativo baixado no celular:

– As pessoas podem até se escandalizar, porque dá a impressão de que estou consultando chamadas, mas é muito mais prático.

Seis meses atrás, quando o bispo viu um grupo de jovens da diocese usando o Twitter em seus celulares e tablets, percebeu que precisava se misturar a eles para não se distanciar:

– Ensinem para mim, que quero me comunicar com vocês – pediu.

Desde então, Ruffinoni mantém uma conta no microblog. Com o alastramento da onda dos padres digitais, até os mais velhos tratam de se atualizar. Aos 74 anos e com quatro décadas de sacerdócio, o padre de Farroupilha Alcindo Trubian
decidiu frequentar aulas de informática. Aprendeu a usar o e-mail e, no começo do ano, criou uma conta no Facebook.

– Eu acredito que usar a internet vai ser cada vez mais comum na Igreja. Não sei até onde eu vou, mas estou me preparando.

Paróquia cria missa online

Pelo menos três vezes por semana, Rosane de Freitas Moreira
, 51 anos, faz questão de acompanhar a missa das 7h da Igreja Santa Teresinha, de Porto Alegre. O detalhe é que ela segue a celebração sem sair de casa, sentada à mesa do café da manhã, diante de um notebook. Desde outubro, a paróquia da Capital transmite pela internet todas as suas 31 missas semanais.

– A missa na igreja é mais vibrante, mas online também é bom. Fortalece muito a gente na fé – justifica a moradora do bairro Santana.

O pároco, frei Ivo Bortoluz
, conta que já houve dia em que 300 pessoas viram a missa pela rede de computadores. Em uma celebração recente, em um domingo, às cerca de 400 pessoas que compareceram ao templo correspondiam outras 42 conectadas pela webcam. Já foram registrados acessos de outros países, inclusive da Europa.

– É um meio de evangelizar e de chegar aonde não chegávamos. Há muitas pessoas que não têm como vir pessoalmente. Já nos adaptamos para incluir, na hora da homilia, um momento em que fazemos referência a quem está assistindo online – diz o religioso.

A paróquia também transmite, nas tardes de quinta-feira, a Hora Santa, um momento de oração pelo surgimento de vocações. Frei Ivo
soube dias atrás que, em uma paróquia do Chile, há um grupo de católicos que se reúne diante do computador, todas as semanas, para reforçar a reza.

No caso de Rosane
, as transmissões permitiram que ela dobrasse o número de celebrações assistidas. Ela costuma ir quatro vezes por semana à igreja – e agora vê outras quatro missas no notebook.

– Se não estou na paróquia, estou na internet – avisa.

Padre dá bênçãos na rede

O padre Rudinei Negri
, vigário paroquial em Tenente Portela, cidade de 13,7 mil moradores no norte gaúcho, está atingindo fiéis de todo o Brasil graças a uma ideia original. Desde o final de agosto, ele oferece um serviço de bênçãos online. Ordenado em dezembro de 2009, o sacerdote de 27 anos já enviou 3 mil mensagens personalizadas a pessoas espalhadas por 19 Estados.

O serviço funciona a partir de um site do município, o Portela Online
. Os interessados acessam a página, dizem que problema estão enfrentando e pedem uma bênção. Em poucas horas, uma mensagem feita especialmente para aquela pessoa é postada por Negri.

Entusiasmado pelo sucesso obtido na base do boca a boca digital, o padre abriu também uma conta no Twitter. Em um mês e meio, arrebanhou 600 seguidores, a maioria de fora do Estado. Cada vez que entra no site, ele gasta pelo menos uma hora para responder às mensagens que chegaram. No dia do seu aniversário, vieram mais de 1,2 mil felicitações.

– Fiquei das 18h às 23h respondendo e não consegui terminar – relata.

Com a comunidade de Tenente Portela
, o contato digital ocorre principalmente pelo Messenger. No serviço, Negri acumula 600 contatos.

– Logo depois de entrar, já tenho que colocar meu status como offline, porque não consigo atender todo mundo. São 10, 15 pessoas querendo falar. Muitos estão enfrentando problemas e pedem conselhos. Contam para mim coisas que não dizem para mais ninguém. A presença do padre na internet faz as pessoas se sentirem acolhidas e valorizadas. E eu não posso ignorar um caminho como esse, em que consigo chegar a mais de 3 mil pessoas em um único dia – diz Negri.

Web & Igreja

Padre e doutor em comunicação, Paulo Roque Gasparetto vaticina: a internet vai mudar a religião. Autor do livro Midiatização da Religião, o sacerdote de Farroupilha acredita que está com os dias contados o processo tradicional em que a Igreja fala e o fiel escuta:

– As novas gerações não querem simplesmente transmissão de conteúdo, querem interação. A nossa dificuldade como igreja é compreender essa nova linguagem.

Há poucas semanas, em Portugal, o arcebispo Claudio Maria Celli, presidente do Conselho Pontifício das Comunicações Sociais, lembrou que apenas metade das 8,4 mil dioceses do mundo tem página na rede. Para piorar, são sites ultrapassados, que se limitam a publicar nomeações de padres e sermões.

– O bispo mais ativo e sensível publica no site as suas homilias. Quem vai ler? Um jovem não vai ler um texto de 15 páginas – alertou.

O tablet do bispo Remídio

Na arquidiocese de Porto Alegre, diz-se que o bispo Remídio José Bohn
é tão inseparável de seu iPad quanto do crucifixo. Ele considera a afirmação um exagero, mas não esconde o fascínio pelo tablet, que adquiriu na época do lançamento, quando o equipamento ainda nem havia chegado às lojas brasileiras. Se, por exemplo, é questionado sobre o número de pessoas no vicariato de Guaíba, pelo qual é responsável, sua reação automática consiste em retirar o aparelho do estojo, limpar cuidadosamente a tela com um pedaço de tecido que mantém à mão e, depois de uma rápida busca, entregar a resposta certeira:

– Pelo último Censo, são 377,17 mil.

São tantos os programas, fotos e documentos acumulados no tablet, que o prelado já se queixa de lentidão no processamento. É ali que ele conserva seu calendário de missas, crismas e encontros e também a agenda onde basta clicar no nome do contato para ver o endereço no mapa. Na memória de 64 GB – o máximo fornecido pelo fabricante –, mantém ainda a foto de cada um dos padres sob sua jurisdição, para nunca se confundir. Os textos que envia ao sacerdotes são redigidos no próprio iPad e repassados por e-mail mediante uns poucos toques no visor. O aparelho serve também para o bispo acessar suas contas no Twitter
, no Facebook, no Messenger e no Skype.

Os aplicativos baixados somam cerca de 130, grande parte deles religiosos: são textos canônicos, breviários, santorais, missais e infinitas versões da Bíblia, nos mais variados idiomas. Apesar do mergulho na vida digital, Bohn faz questão de frisar que o importante mesmo é o contato pessoal:

– Uso bastante o iPad, mas não sou dependente. É um instrumento de trabalho.

Um comentário:

Fernando disse...

É a igreja, assim como Jesus, inovando no jeito de se comunicar e anunciar a palavra. Parabéns pelo blog Frei, muito bom.

Abraço,
Fernando